quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Era uma sexta-feira quente de inverno.
Eu estava no bar com minha amiga, esperando meu namorado chegar para irmos passar o final de semana num evento da firma dele.
Eu já previa que seria um saco, por isso aproveitei bem o bar com ela.
Ele chegou e falei que estava com as chaves do apartamento de praia da minha avó, pra gente ir lá transar porque a casa em que ficaríamos ia ficar cheia de gente no mesmo quarto.
Entramos no apê, e como sempre, abri o vitrozão da sala, que dá para o mar.
É uma delícia, aquele apê é uma poesia.
Ele foi tomar uma ducha e eu acendi um baseado. Dei só três tragadas profundas, para economizar.
Sempre economizo meus baseados; odeio ter de comprar, então prolongo o fumo ao máximo.
Quando ele chegou eu estava bem doidona e louca para transar. Nos pegamos no sofazinho da sala que eu tenho um pouco de nojo, mas nessa hora esqueci.
Foi gostosinho.
Então partimos para a desgraça do final de semana.
A casa que ficamos era de um membro do grupo dele, um dos chefinhos coxinha.
Era uma dessas casas que aparece em revista de rico, sofisticada e com aquelas putarias de piscina com cascata e portinha de controle remoto.
Eu não gosto desse povo do trabalho dele. São todos superficiais e querem se mostrar, manter a boa aparência.
Então eu também tenho que fingir que sou educada, segurar meus comentários, não ser eu nem um pouquinho.
As pessoas iam chegando e eu ia me deprimindo cada vez mais, porque elas não interagiam direito.
Apenas papinhos de amenidades, ninguém era capaz de conversar de verdade. Piadinhas babacas de trabalho. Só.
Bem que tentei ser amiga de alguém, mas as pessoas não queriam fazer amizade de verdade com ninguém.
Todos foram cumprir um dever e fingir alegria.
O churrasco começou e tomei umas caipirinhas para aguentar aquilo tudo sorrindo.
Fui ao banheiro fazer xixi, mas não conseguia mais levantar da privada... tava tudo girando...
Pensei: "que merda estou fazendo dando um PT no último lugar do mundo que eu poderia fazer isso???"
Então resolvi não sair do banheiro.
Seria o suicídio social-profissional do meu namorado toda aquela gente me ver cambaleando e vomitando.
Ele acabou aparecendo lá um tempão depois... me ajudou a vomitar e me levou escondido para o quarto. Fez minha cama e me deitou. Um fofo.
A gente sempre se ajuda ao máximo nesses momentos.
E ninguém ficou sabendo do meu PT.
Sábado foi um inferno, igual ao de sexta, e de ressaca, só tomando água.
No domingo eu estava a ponto de sair correndo.
Quando todos estavam reunidos na sala, fui para o  quarto escondida, que ficava bem longe.
Tranquei a porta do quarto, entrei no banheirinho; peguei meu baseado de sexta e o fumei rapidamente, sempre tendo o cuidado de apaga-lo a cada tragada; estava morrendo de medo que alguém sentisse algum cheiro.
Desperdicei várias esguichadas de um body splash da Victoria Secrets no banheiro, em mim, até no meu cabelo, para encobrir o cheiro.
Um tempão depois saí, fui para a sala e avisei meu namorado que ia caminhar na praia.
Ninguém daquele lugar se interessou em conhecer a praia que ficava a 400 metros da casa. Dei graças a Deus que fui sozinha, ouvindo minhas músicas.
Fui até a praia mas o tempo estava cinzento e com vento gelado. A praia era meio feia, de areia escura.
As ruas eram de areia também; só quem morava naquela cidadezinha estava lá, todos bem pobres.
Achei incoerente os caras terem uma casa luxuosa numa espelunca daquelas.
Se tem grana pra um palacete, que seja numa praia bonita.
Levei uma semana inteirinha pra voltar ao normal, pois esse final de semana me deixou impregnada de tristeza e um profundo tédio.




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